AUGUSTO COMTE
Augusto Comte nasceu em Montpellier aos 19 de janeiro de 1798, de pais católicos, mas, ainda muito jovem, perdeu a fé. Estudou no Politécnico de Paris, do qual foi expulso. Por algum tempo foi discípulo e colaborador de Saint-Simon, com o qual aprendeu a interessar-se pela sociologia e pela história. Começou, em 1830, a publicação do Curso de filosofia positivista, obra na qual desenvolvia uma nova ciência da humanidade e criava urna nova religião: a religião da humanidade. Compôs, para esta religião, em 1852, O Catecismo positivista contendo também um novo calendário, O calendário positivista. Morreu em Paris, em 1856, enquanto trabalhava na Síntese subjetiva, na qual se propunha oferecer uma síntese completa de todo o saber científico.
A parte da obra de Comte que teve mais repercussão tanto entre seus contemporâneos como entre os pósteros é a que trata do valor e da função da ciência. Isto não parece, contudo, corresponder às intenções do autor que queria antes de tudo elaborar uma filosofia da história baseada não no princípio do devir dialético (como fizera Hegel), mas no princípio da evolução espontânea e mecânica.
Segundo Comte, todo o universo procede da matéria por via de evolução. Também o homem é produto da evolução da matéria. Quando a evolução atingiu o estádio humano, teve início a história, cujas fases principais são a religiosa, a filosófica e a científica, as quais constituem as três épocas fundamentais da história da humanidade.
Na época religiosa, o homem explica os fenômenos naturais recorrendo a causas sobrenaturais; na época filosófica, explica os mesmos fenômenos recorrendo a princípios recônditos como a substância etc.; na época positiva, procura uma explicação científica por meio das leis naturais, as quais explicam por si sós (sem necessidade de se recorrer a Deus ou a princípios metafísicos) todos os fenômenos que constatamos.
Todos os ramos da história e do conhecimento humano passam por estes três estádios.
Para Comte esta lei é imediatamente evidente:
“Quem de nós não recorda, refletindo em sua própria história, que foi sucessivamente, com respeito às noções mais importantes, teólogo na sua infância, metafísico na sua juventude e físico na idade adulta?”.
Quanto ao estado da cultura do seu tempo, Comte observa que, embora vários ramos do conhecimento humano já tenham entrado na fase positiva, a totalidade da cultura intelectual e da organização social que se baseia nela ainda não está animada pelo espírito positivo.
Comte nota principalmente que, ao lado da física celeste, da física terrestre, mecânica e dinâmica, e da física orgânica, vegetal e animal, falta uma física social, isto é, o estudo positivo dos fenômenos sociais.
Por isso ele se propõe levar a termo, isto é, elevar ao estado positivo todas as ciências e especialmente elaborar uma ciência dos fenômenos sociais, uma física social.
Um dos aspectos mais originais do pensamento de Comte diz respeito à função da filosofia. Esta é a forma mais alta do saber, a ciência suprema, mas não porque tenha um objeto distinto, superior ao objeto das outras ciências. A filosofia não é superior às outras ciências no que se refere ao objeto.
Segundo Comte, com efeito, não existe nenhum outro objeto além dos objetos particulares estudados pelas outras ciências; além da realidade empírica não existe nenhuma realidade meta empírica; além da realidade física não existe uma realidade metafísica, divina, reservada ao estudo da filosofia.
A filosofia é a rainha de todas as ciências porque as dirige todas. Segundo Comte, a tarefa da filosofia é classificar as ciências, determinar os seus limites, julgar os seus progressos. A função da filosofia não é conhecer este ou aquele objeto particular (não é uma função cognitiva), mas dirigir as ciências em suas pesquisas.
A sua função é normativa.
As ciências fundamentais, segundo Comte, são três: física, biologia e sociologia.
A física estuda as leis gerais da matéria; a biologia, as leis gerais da vida; a sociologia, as leis gerais do homem como ser social.
Comte não inclui a matemática nas ciências. Para ele a matemática, por não estudar seres concretos, não é uma ciência, mas um método, o método geral de todas as ciências.
A ciência à qual Comte subordina todas as ciências como ao seu fim último é a sociologia.
“Nenhuma ciência inferior deve ser cultivada a não ser quando o espírito humano tiver necessidade dela para elevar-se solidamente à ciência seguinte, até atingir o estudo sistemático da humanidade, sua única meta final”.
No estudo sistemático da humanidade, Comte chega às seguintes conclusões:
A humanidade é o único Deus que merece o nosso culto. A humanidade é o grande ser enquanto “conjunto dos seres passados, futuros e presentes que concorrem livremente para o aperfeiçoamento da ordem universal”. Ë para este grande ser que deve ser dirigida a religião de todos os membros da sociedade. Comte delineia minuciosamente o culto positivista da humanidade. Estabelece um “calendário positivista”, no qual os meses e os dias são dedicados às maiores figuras da religião, da arte, da política e da ciência. Propõe até um novo “sinal” em substituição ao sinal-da-cruz dos cristãos. Finalmente, no último escrito, dedicado à Filosofia da matemática (1856), que se propõe associar a ciência da natureza ao sentimento, ele pretende introduzir uma trindade positivista. Ao lado do “grande ser” que é a humanidade, Comte coloca como objeto de adoração o “grande fetiche”, isto é, a Terra, e o “grande, isto é, o espaço.
— “A humanidade está em contínuo progresso. Ela realiza um aperfeiçoamento constante, embora não ilimitado, do gênero humano; este aperfeiçoamento assinala a preponderância crescente das tendências mais nobres da nossa natureza.
— A humanidade tende à unidade também política; virá um tempo no qual haverá um só governo, dirigido por uma corporação de filósofos positivistas.
— A humanidade é guiada por uma só lei moral: viver para os outros. Esta máxima não é contrária aos instintos do homem porque eles não são exclusivamente egoístas. O homem tem também instintos altruístas que a educação positivista pode desenvolver progressivamente até fazê-los predominar sobre os outros instintos.